sábado, 28 de março de 2009

Furando as Ondas - Testemunho de um menino


Quando eu tinha 5 anos, meu pai disse para minha mãe que tinha que ir para Santos fazer um serviço (meu pai era Eletricista Industrial). Eu me lembro que desde pequeno eu tinha pavor do meu pai. Quando ele disse que queria me levar eu olhei para os olhos de minha mãe e falei sem palavras que não queria ir. Minha mãe abaixou a cabeça submissa e eu entendi que ela estava me dizendo sem palavras [Eu também não quero que ele te leve filho, mas eu não posso dizer nada].


Eu me lembro que o carro era uma variante branca, na época devia ser o carro do ano. O carro era de um amigo de meu pai, esse amigo é que guiava o carro, meu pai ia no banco do passageiro e eu estava sentado no banco de trás. Eu estava em pânico, tentava olhar a paisagem para me distrair, mas pela minha estatura, não conseguia ver muita coisa. Evitava olhar para à frente, pois, toda vez que olhava para aquele espelhinho lá da frente, meu pai me olhava por ele e fazia aquele olhar que me apavorava, um olhar de ódio e que revelava maldade. Eu me tremia todo.
Também lembro que por um momento paramos em um tipo de construção que eu não conhecia, que era uma espécie de barraca de feira, nome que eu só conheceria anos depois, mas o que ela tinha é que me interessou muito, lá vendia banana nanica.


Chegamos no Porto de Santos, nas docas, esses dois nomes eu também só saberia muitos anos depois. Lá eu lembro que subi numa grande escadaria a maior que eu já tinha visto, pelo menos na visão de uma criança de cinco anos. Ela era prateada, essa escadaria levava a uma porta lateral de um navio . Eu passei muito medo lá em cima era muito alta e balançava, fiquei cansado subindo seus degraus. Eu tinha um medo excessivo de meu Pai que eu não sei explicar até aquele dia porque eu o tinha tanto. Mas naquele dia esse medo seria justificado. (não tenho memória anterior aos meus cinco anos, fora meu primeiro banho que me lembro). Meu pai resolveu ir até a praia, ninguém me pergunte qual era o nome da praia, por favor, minha memória não é tão boa assim. Lembro-me que eu já estava na água com meu pai, já a uns três, quatro metros da areia, não me lembro o que eu vestia por baixo, me lembro que eu e ele estávamos sem camisa. Meu pai me levava cada vez mais longe, mas eu não estava percebendo. Só Deus sabia o quando eu amava aquele homem que me rejeitava e me tratava mal, muito mal, nas poucas vezes que ele pareceu estar me dando carrinho era como a melhor coisa que me acontecia na vida, como eu queria um carinho dele. Ele me puxava carinhosamente, jogava água no meu rosto e na minha cabeça, brincava comigo. Aquilo parecia um sonho, era só um pesadelo, meu pai me ama, olha como ele brinca comigo. Então ele me disse:


- Filho vou te ensinar a furar as ondas, quando as ondas vêem você precisa saber furá-las para não se afogar.


Quando uma onda grande vinha ele segurando minhas mãos mergulhava na base da onda, eu via a luz do sol por baixo da água. Quando a onda era pequena ele só mergulhava. Nunca tinha me sentido tão seguro com meu pai, não estava sentindo medo nenhum, era uma diversão. A onda vinha e mergulhávamos. Depois eu subia e puxava bem fundo o ar, por recomendação do meu pai e porque meu fôlego também já estava acabando.


Mas o sonho acabou, as vezes eu era tão distraído, que não percebia as coisas acontecerem perto de mim. Eu mergulhava e subia, subia e mergulhava e o que estava importando, estava fazendo isso com aquele homem meu pai. De repente nós mergulhamos numa onda maior eu vi a profundeza das águas e vi que o sol estava mais escuro. Quando eu subi a tona, meu pai não estava mais me segurando, olhei para todos os lados desesperado, e gritava "Pai! Pai! Pai!", eu só via água, veio uma onda, lembrei das instruções de meu pai, as únicas instruções que ele me deu que influenciaram a minha vida ou impediram a minha morte. Ela era mais alta que minha cabeça, eu me choquei na base dela e mergulhei. Medo, muito medo, desespero, meu fôlego esta acabando, a onda passou, eu subi e puxei o ar. Outra onda a mesma ação, fôlego, fôlego, fôlego, a onda passou eu subi, puxei o ar, eu vi a água inclinada, a água afundava como se fosse uma bola partida em metades que você olha por dentro, as vezes a bola ficava ou contrário eu ficava no alto. Eu gritava "Pai! Pai! Pai!, e não tinha resposto. Outra onda, para meu corpo frágil e pequeno eram vagalhões, agora quando a água passava pelo meu corpinho ele doía, quando eu subi e puxei o ar meus pulmões doeram. Olhei outra vez para todo os lados. Dessa vez meus olhos viram o que eu mais queria ver. Meu pai. Ele não estava perto de mim, nem estava vindo em meu socorro. Ele estava em pé na areia da praia, seu calção era branco agora eu não tenho noção de distância, mas eu garanto que eu não conseguiria sair dali sozinho, hoje eu sei, estava sendo levado pela correnteza. Meu esta em pé e me olhava, eu gritei com todas as poucas forças que eu tinha ele estava imóvel, quando eu consegui ver seu olhos... sim eram aqueles olhos... ÓDIO E MALDADE... Nesse momento eu percebi em sentimentos o que agora tentarei reproduzir em palavras, sensação de abandono, pavor, agonia, um frio indescritível na barriga nesse momento parecia que meu estômago colou as paredes, uma dor em todo o corpo que agora não era mais causada pela água.


... - Paiiiiiiiiii! Paiiiii! Paiiii!


Que aflição e agonia, eu senti a sensação mais horrível que um ser humano pode sentir fel na boca. Eu senti a morte.


Ele não se mexia, quando eu consegui ver seu rosto novamente, ... aqueles olhos... Ele sorriu. A morte estava me abraçando e fazendo carrinho.


Então eu entrei em choque, parei de gritar, não me movia. Então eu me lembrei de algo que minha mãe havia me ensina. Em pensamento eu orei sozinho pela primeira vez.


... Papai do céu, me cobre com teu sangue, Papai do céu...


Eu sentia fel e sal. Eu mergulhei engoli água, subi.


.... Papai do céu, me salva...


Então eu senti. Senti um vento que vinha por cima da minha cabeça, era um sopro suave e contínuo, e eu ouvi a voz mais suave e branda que se pode ouvir. Voz que transmitia, paz, e alívio. Amados eu só me lembro de uma palavra .... Calma!... Calma! Meu coração se acalmou. O mar começou a acalmar, agora as inclinações da água ficaram menores, as ondas pararam, eu só sentia que a corrente me levava. Eu olhei para a praia eu não conseguia ver meu pai direito, ele era só um ponto na areia. Bom eu olhava ao meu redor a água do mar estava quase nivelada, eu comecei a pegar a água com a mão e virava a palma deixando a água escorrer de volta para o mar. Eu sentia muita paz, todos os sentimentos negativos eu sentia-os agora positivamente nos seus antônimos.


Como eu sai do mar?


Não me recordo. Depois da cena de ver a água quase nivelada e estar sentido uma brisa de vento e ficar brincando com a água, minha memória apagou. Ao longo desse testemunho vocês perceberam lacunas na minha memória, que talvez só psicólogos poderão explicá-los. Meu sistema de memória é muito confuso, tenho boa memória para lembrar de senhas complicadas, mas geralmente não lembro o número do meu telefone e se alguém faz um pedido de manhã, pode ser que ao longo do dia eu me esqueça e quando a pessoa me cobra o pedido é como que o pedido estava lá, mas estava trancado oculto da minha memória principal. Então essas fatos me surgem na mente como pequenos flash, cenas opacas em primeira pessoa, como se as estive vivendo outra vez, até que eu volte a si novamente, despertando de um pesadelo.



Então amados leitores, eu vivi uma experiência conforme esta na letra dequele hino da Cassiane que diz:

... quando passares pelo fogo, não vai te queimar. Quando passares pelas águas não vão te afogar...

Para a sua meditação:

"O anjo do SENHOR acampa-se ao redor dos que o temem e os livra". Salmos 34.7

-Atenção todo esse texto irá passar por uma revisão, e pode ocorrer mudanças até a provável publicação de um livro, pois, até isso ocorrer poderei lembrar de outros fatos que agora estão ocultos em minha memória.

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